27/11/2009

Dois pés

Não era joão
O pé não era feijão
Era pé de moleque
De São Cosme e Damião

Não era rosa
Era vermelha
O pé cheio de espinho
Era flor verdadeira

Eram dois pés descalços
Tentando caminhar
O desafio era ir pulando
Num pé só até se encontrar

E quando se tocassem,
A muda ia falar
Que a rosa vermelha se abrirá
E que pediu pra avisar:
-"Seu pé cascudo eu planto dentro do meu All Star."

23/11/2009

Sobre o medo

Tá. O texto é enorme. Pega um lanchinho.

Eu já andei de avião algumas vezes na vida. Sempre nos aviões mais tradicionais e teoricamente mais seguros. Mas no último dia 13 surgiu um convite para ir ao Uruguay num jatinho de 8 lugares.

Tremi. Fui logo checando se tinha algum show marcado
naquele fim de semana, quase que torcendo para ter. Apesar de querer muito fazer a viagem, bateu aquele medinho... sempre que ouvia falar de um avião que tinha caído, era jatinho. Pensei logo: ai.. La Bamba! (é... normalmente lembro deles quando ouço falar em acidentes aéreos com jatinho).

Mas o show que tava marcado pra aquele dia tinha mudado de data, o que praticamente
me obrigava a aceitar o convite, até porque eu sabia que uma vez lá a viagem seria incrível!

Bom, às vésperas da viagem, caiu a ficha que dia 13 era uma sexta, aí o meu lado Roberto Carlos deu um gritinho afetado. Mas pensei o quanto seria ridículo desistir, uma vez que já tinha aceitado o covite e todo mundo contava com a minha presença. Então, convoquei o macho abridor de latas de azeitona que habita algum lugar do lado direito do meu cérebro e resolvi embarcar.

Ok, avião pequenininho. MUITO pequenininho! Tinha até uma privadinha ao lado do piloto que também era banco de passageiro (pra vc ver como o espaço pode ser bem aproveitado, não é mesmo?).

É engraçado pq eu nunca tive medo especificamente de voar. Qdo o avião tá lá em cima eu fico tranquila. O que me apavora são a decolagem e aterrissagem. São momentos mais instáveis, vc fica ali meio inclinadinho, tem que botar o cinto, desligar os celulares, essas coisas.

Mas enfim, tava eu lá em cima depois de uma decolagem excelente, o tempo no Rio tava razoável, até um solzinho
dando pinta entre as nuvens tinha. A rota era Rio-Bagé Bagé-Punta Del Este. Até Bagé a viagem tava tranquila, algumas turbulências, mas nada muito preocupante.

O problema é o piloto não conseguiu contato com o aeroporto de lá e decidiu aterrissar na mão no meio de uma tempestade (engraçado é que começou a tocar No Rain do nada aqui no meu som agora, no meio de uma seleção de Beatles. Ok, voltando...). Pra que?

O avião balançava muito. Todo mundo se olhando tenso e mudo. Tudo cinza pela janela. Rezadinha básica.
Menina do meu lado vomitando.

Quando o filminho da vida tava preparado pra rodar na minha cabeça, um pensamento me dominou completamente:

- "Se for pra
eu cair com esse avião, eu vou cair feliz".

Fiquei pensando antes que eu não precisava estar lá, podia estar na terra, na praia, sei
lá, em qquer lugar seguro!!!

Mas fui totalmente dominada por uma calma, e não era que eu tivesse a certeza ou acreditasse que
fosse dar tudo certo e o avião não fosse cair.

Eu tive a certeza de estar no caminho certo.

Que eu deveria estar naquele avião. E
que se o meu destino era cair ali, que fosse! E se fosse pra ter um final feliz, que fosse também!

De alguma forma eu confiei no
meu destino. O encarei. Então, uma paz me invadiu completamente. O caos se instalando ao redor e eu olhando as nuvens. Acho que foi o maior desafio à minha fé até hoje.

Eu, Roberta, que tive medo do escuro até os 20 anos, que tinha medo de tubarão no
raso quando era pequena, eu poderia dar master classes sobre o medo, tava lá tranquila no avião pancadão.

Eu tinha uma teoria sobre o medo, mas eu não acredito em medo não. Pq pra mim medo é ausência de fé. E não dá pra acreditar na falta de crença. Pensando assim, acreditar no medo seria desacreditar. E desacreditar não é bem acreditar, não é mesmo?
Então, eu desacredito no medo (desacreditar na descrença = acreditar! não no medo. Ok, isso está confuso, mas faz sentido.)

Fizemos a curva e voltamos para Porto Alegre. Mais uma hora no ar e uma cumplicidade silenciosa da mais pura tensão. Contato estabelecido com o aeroporto de Porto Alegre, ufa! Olhando mais de pertinho... um cachorro na pista! Que fofo! Demos mais uma voltinha e pouso realizado com sucesso!

No areroporto decidiríamos se ficaríamos por lá mesmo até o tempo melhorar ou se seguiríamos para Punta. Nisso minha mãe me liga pra saber se tava tudo bem (ela nem sabia que eu tinha viajado. Mãe é impressionante! - Aproveitando os parênteses: agora tá tocando Blackbird!). Papo vai, papo vem no telefone. Eu doida pra saber a previsão do tempo, se era seguro levantar vôo outra vez. Tava olhando a pista do aeroporto pelas paredes de vidro da salinha, e quem pousa do meu lado? hã?

Siiiiiim!!! Ela! o
bichinho verde... chego perto e era uma esperança mesmo, dentro da sala fechada! Pode me chamar de maluca (tem gente que gosta, acho até bonitinho). Mas ali tive a certeza que tava tudo tranquilo. O piloto veio e disse que seguiriamos.

A viagem foi
realmente incrível. O vôo maravilhoso, o hotel ótimo, a companhia das amigas tbm, Roberto Carlos atrasou o show em 3 horas e meia para entrar depois da meia noite (dia 14), (legal, agora tá tocando amor perfeito do Roberto Carlos, tô ficando preocupada!)

Vôo de volta
perfeito!

E cá estou eu, viva, contando essa história ou estória, tanto faz, pra vcs.


Isso tudo pra dizer que o lance não é o medo: é a coragem, a ousadia.

Se eu não tivesse entrado naquele avião, eu não teria vivido momentos maravilhosos. Nem os turbulentos, tudo bem. Mas a viagem não tem graça sem eles. os Bons momentos foram muito maiores do que os ruins.


Eu tô aqui pra dizer que eu entraria de novo.

Que venham as turbulências e as viagens fantásticas!


Deixa que o destino se encarrega do trajeto e o resto... Bem...

"O resto é com a gente mesmo!"