30/03/2010

"Um sonho possível"

A moça tava saindo do cinema e notou que um rapaz insistia em encará-la.

Bateu um medinho, disfarçou, entrou no banheiro, marcou um 10 e saiu.

Olhou para os lados, não o viu, seguiu em frente. Ao virar à esquerda, para sua surpresa, trombou com o indivíduo. Tomou um susto e deu um grito:

"Aaaai! Vc tá me seguindo?"

Ele respondeu: "Sabe o que é... é que eu tava te olhando... Vc é a cara daquela atriz... a Sandra Bulldog. Aí fiquei te olhando... E tive a certeza! É você! Nossa... eu sou apaixonado pelo seu trabalho. Amei aquela peça que vc fez: Um sonho possível. Nossa... arrasou!"

Ela disse: "Ahh.. sabe o que é? Na verdade eu sou cantora. Esse foi um papel que eu interpretei num musical. Minha personagem era uma atriz chamada Sandra Bulldog. Mas essa peça só ficou três meses em cartaz. Na verdade, meu nome é Roberta. Prazer!"

Ele, indignado, disse: "Não, eu tenho certeza!!! Vc é a Sandra Bulldog. Te vi na tv outro dia. Vc tava até recebendo um prêmio por essa peça."

Ela, sem saber o que dizer, tentou outra vez: "Não, não... meu nome é Roberta Spindel. Vc deve estar confundindo. Às vezes a gente mistura a fantasia dos musicais com a realidade, aí acaba criando essa ilusão. Eu sou cantora. Agora tenho até feito trabalhos que levam mais o meu nome. Vc pode até conferir ó.. taqui o meu site nesse cartão. É só clicar no meu nome que abre a janelinha, aí vc clica em..."

Nesse meio tempo ela ouve um grito: "Me dá um real pra eu tomar sorveteeee???"

Era um garotinho loirinho.

Ela sorriu, pediu licença ao rapaz, e disse: "Vamos lá, mocinho. O meu vai ser de... vc conhece alguma fruta azul? Tô com um desejo de fruta azul... "

E ele disse: "Blueberry! Também quero esse!".

Ela perguntou: "Cadê o seu pai?"

Ele: "Não sei... acho que foi pedir um autógrafo pra uma atriz..."

E os dois seguiram para a sorveteria.

28/03/2010

Rolo Compressor

E o rolo ia passando por cima de tudo e todos que via.

Ia esmagando e juntando os pedacinhos, como numa grande e longa folha de destroços.

Desfilava seu peso sobre os passantes não porque queria simplesmente destruí-los. Fazia porque precisava ser compreendido. Reproduzia diariamente na rua a sequência de acontecimentos de tudo que havia sido esmagado dentro dele no seu processo de construção.

E não sabia de outro jeito. E nem aprenderia.

Talvez em outra encarnação.